Vejo o conflito como um rápido movimento centrípeto, yang, circular e contrativo que faz com que o corpo siga para o centro da trajetória, que suga tudo à sua volta, um movimento de grande força e gerador de uma atenção e foco inabaláveis.
Podemos então dizer que o conflito contém em si a semente da harmonia e quanto maior este for maior a possibilidade de harmonia, de paz. Este é o grande poder do conflito.
O conflito é o gatilho que te leva a mergulhar profundamente no sentimento de paz interior. Apresenta-se como uma grande oportunidade de mudança, para melhor, e quando interiormente tu mudas para melhor, o mundo será também melhor, porque tu aprendeste a transformar o conflito em harmonia.
Como diz na letra da música do Gabriel o Pensador:
“Muda que quando a gente muda
O mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente”
Surrender #3 - Impressão digital e pintura acrílica sobre Aluminio (Dibond).
Na arte proponho-me transformar o conflito em harmonia através da diplomacia, da delicadeza no uso das formas e das cores e da empatia profunda e conexão com elas, tornando os diálogos pacíficos, sem exclusão e julgamentos, até que a harmonia do sistema colocado no suporte se estabeleça.
Gostaria de dizer que quando me refiro a harmonia não me refiro a algo em completo equilíbrio, estático, parado, mas antes a um conceito de desequilíbrio reequilibrador que permite a dança subtil entre o conflito e a harmonia, contração e expansão, gerando um movimento capaz de responder rapidamente às questões da mente e do espírito.
Reparo então que o conflito surge ao nível mental, yang, e que me leva tendencialmente para a culpa, ou desculpa, no sentido de me desresponsabilizar dos meus próprios sentimentos e não olhar para o outro lado da questão, o Amor-próprio puro que cala a mente e ouve a intuição, para que possa dar ao meu Ser e ao meu sistema aquilo que ele precisa.
Quanto mais nos esquecemos da intuição mais forte será o conflito, Yang atrai Yin, Yin atrai Yang, sempre para o equilíbrio do sistema.
Última Ceia - Tomé - Escultura em MDF e Madeira
Na arte como nas relações, a beleza é o processo e a preparação para poder ver claramente a propensão para a culpa e o julgamento, e com isso dar lugar a um estado de empatia profunda, e é a partir desse estado de maturidade e compromisso onde és gentil e autentico e em que estás realmente presente e aberto, que te é revelado o outro lado do conflito, o Amor, a liberdade.
O conflito pede Amor, e para mim a arte é diplomacia que me faz acreditar ser possível manter aberto o coração e devolver Amor ao Não-Amor, criando uma energia suave e abraçando a beleza da vida.
O coração contrai e expande, sem que precises de o controlar.