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Ver a arte abstrata através de um suave olhar.

Para quem acha que não percebe a arte abstrata.

21 de agosto de 2020

Ver a arte abstrata através de um suave olhar. Para quem acha que não percebe a arte abstrata.

Muitas pessoas dizem não perceber nada de arte abstrata, dizem não a compreender.

Pergunto então, compreende a música?

Falemos de formas metafóricas de viver uma vida graciosa.

Passo uma boa parte do meu tempo, combinado, equilibrando e testando formas e cores, trabalhando padrões, ritmos e estruturas. Este é o meu trabalho como artista e como designer, muitas vezes como mentor, líder ou professor.

Por exemplo, a minha obra Evolutionary - Human Design #1 apresenta uma configuração energética que apesar de equilibrada e harmoniosamente estática é ao mesmo tempo tensa e dinâmica. É assim que se compõem formas profundamente penetrantes na mente de uma pessoa.

Esta chave intuitiva que permite chegar à composição final é fruto da intenção de aceder a uma ressonância geométrica exata, que emerge do nosso Ser e que regressa ao mesmo para ser sentida e materializada. É como um templo, que não impõe uma intenção ao observador mas que pretende realçar os aspetos mais luminosos da natureza humana, na tentativa de eliminar os lados mais obscuros e elevar a vibração e a consciência.
A arte visual abstrata é livre de intenção, é um fluxo de formas que nada faz à mente a não ser criar um desconfortável curto-circuito. Agora, quando estou a falar, aqui, de arte visual abstrata, não estou a falar apenas de composições geométricas. Posso comparar à poesia, e dar o exemplo de poemas que são palavras, histórias e rimas inteligentes, ou de verdadeira poesia como um fluxo ou fragmento de palavras que suaviza e abre diretamente o coração.

Para mim a obra de arte abstrata deve surgir espontaneamente do vazio e cair de novo nesse vazio. Pode ser apenas um fragmento de discurso, mas nesse fragmento está todo o universo em reflexão, com o propósito de o integrar no seu nível mais profundo, e nem sequer requer o uso de palavras.

As obras que têm o maior poder são os que parecem elevar-se para além das suas próprias formas e cores. É qualquer coisa que não se encaixa - que não se pode conformar com o mundo construído a partir da mente. É um movimento curvilíneo contínuo, invisível, e se pudesse dar um nome a este movimento seria “Deusa” e o que se sente seria “Suavidade”. Deixar a Deusa se expressar na nossa vida é encontrar esta suavidade no âmago do nosso Ser.

Disse Lao Tzu:

" Sob o céu
O mais suave cavalga sobre o mais duro sob o céu
A não-existência pode penetrar no sem-espaço
Por isso conheço o benefício da não-ação
O ensinamento da não-palavra
O benefício da não-ação
Sob o céu, são poucos que os alcançam”

 

Expressar a partir desta suavidade é falar poeticamente, à margem da própria linguagem. A suavidade tira-nos do drama da evolução, retira-nos do emaranhamento do sistema e da estrutura, para nos curar num movimento curvilíneo de dentro para fora. Esta suavidade convida à dança evolutiva, a elevar a alma e levantar as asas do sonho, mas sem esquecer que tudo passa.

A vida parece-me ser assim, como vento que na água canta, como uma cascata de formas poéticas que fazem esquecer as palavras que queríamos dizer, para então deslizarmos suavemente, por detrás do olhar rendido até ao nosso Eu interior.

Acácio Viegas