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O Design thinking é para todos. O que aprendi a viver com um designer.

Por Vânia Magalhães.

 

 

19 de agosto de 2020

O Design thinking é para todos. O que aprendi a viver com um designer.
Por Vânia Magalhães

Conviver com um designer, apaixonado pelo que faz pode ser uma experiência muito enriquecedora. Demora algum tempo a entrar na dinâmica de um cérebro que em geral funciona de forma diversa do comum, mas quando é possível integrar um pouco dessa forma de pensar e sobretudo sentir, é todo um novo mundo que se abre. Tentarei referir-me a algumas das aprendizagens realizadas, certa, no entanto, de que muitas outras ficarão de fora.

Sobre criatividade
 

A primeira e talvez mais importante lição de todas foi sobre o próprio conceito de #criatividade. De forma assumidamente ignorante, associava a criatividade ao trabalho artístico e como as artes plásticas não constam da minha lista de talentos, rendia-me à minha ausência de atividade criativa, até um designer me mostrar os diferentes domínios em que se pode ser criativo e que acima de tudo, e ainda que de forma bem simplista, criatividade passa por criar boas soluções e que estamos todos habilitados a solucionar o que tenhamos em mãos, a partir dos nossos dons. Desde então que me divirto a constatar o meu talento criativo ao nível profissional, mas igualmente na cozinha, na escrita, no papel de mãe e em tudo mais que no dia-a-dia me é dado solucionar.

Solução? Então e o problema?!

A verdade é que sempre fui orientada para a solução, seja traço de personalidade ou defeito de fabrico, o meu foco foi sempre resolver e sair a 7 pés do problema. Ora, aprendi com o designer cá de casa, que sem conhecer o problema e sobretudo, a real necessidade que queremos satisfazer, provavelmente a solução não será a adequada. E é bem verdade que na raiz está a força e a resposta. É revolucionário ser capaz de acolher o problema como parte da solução, pode parecer óbvio, mas olhando ao meu percurso e à minha volta não é tanto assim.

40 soluções, no mínimo!

E continuando na temática em que julgava ter mestria, também me rendi humildemente a uma nova perspetiva, já que percebi que por um lado, em geral não existe apenas uma solução e por outro é preciso explorar imensas possibilidades para lá chegar e todas são válidas, já que por vezes grandes ideias nascem da mais estapafúrdia. Para quem vivia apressada e com olho no alvo, parar para elencar, agrupar, testar e voltar ao princípio as vezes que for possível, é de facto desafiante, mas com bons resultados!

Kiss

Algo que também não creio que me vá esquecer mais é o significado de um kiss…Não é que tenhamos o hábito de nos insultar cá em casa, mas este é dos bons e que fica na memória! "Sabes o que significa kiss? Keep it simple, stupid!" Sempre fui mulher das letras e das humanidades, textos longos, muita análise, clareza do discurso, muitas vezes pela exaustão. Relatórios, peças processuais, notificações, manuais, fazem parte da minha história e precisavam ser entendidos pelo destinatário. Menos é mais foi uma útil aprendizagem para uma eficiente gestão de recursos já que a palavra é um deles, bem como o tempo. Ser capaz de expressar clareza com pouco é agora uma motivação e o destinatário agradece.

Observação, sempre!

E por falar em destinatário, um bom designer sente o cliente e cria a imagem/produto de e para o cliente, respeita-o e aconselha, a partir da sua capacidade técnica e criativa. Não impõe, mas compõe, até porque uma boa composição é outro dos talentos dos designers a observar e reter. Composição não é aglomerar elementos, é bem mais do que a mera soma das partes e isso requer muito treino e observação. Eu continuo a frequentar a disciplina e a deliciar-me.

O design é sistémico

Em complemento do que acredito e defendo sobre visão sistémica, gostei de a percecionar em contextos mais práticos e visuais, e até vê-la prototipada diante de mim. Menos é mais, mas tudo faz parte e nada pode ser deixado de fora. O design é sistémico e ainda bem porque essa é uma linguagem em que nos entendemos bem e pude complementar algo que já me fazia tanto sentido.

Empatia

E isto leva-me a outra ideia muito presente na mente dos design thinkers, que gostei de constatar e aprofundar, um tipo muito peculiar de #empatia, que nem sou capaz de classificar, mas que passa por “desvendar” quem está do lado de lá do produto ou serviço e em conjunto com esse destinatário, quantas vezes desconhecido, cocriar algo com significado para ambos, e que vai além do foco no cliente, como que envolve ainda o cliente do cliente, o contexto, a sociedade…Bolas que não é fácil explicar o que se integra a um nível de perceção menos racional e lógico.

Imagens e/ou palavras?

E por falar no lado direito do cérebro constatei o poder das imagens, das histórias ilustradas, ou ilustrações que são histórias. Não vou dizer agora que uma imagem vale mais do que mil palavras, serei sempre uma apaixonada pelas letras, mas somos, de facto, seres visuais e a aprendizagem ganha muito se as combinamos; e para quem, como eu, se sinta incapaz de produzir uma imagem gráfica de qualidade, temos dois caminhos: criar imagens/história pela palavra ou contratar um designer! Eu fui estimulada pelo designer a criar imagens pela palavra…

Aprender a parar...

Ocorre-me ainda a forma como ultrapassei certos bloqueios (criativos)! A pressão bloqueia a criatividade e a imaginação, mas sempre me orgulhei de conseguir produzir nessas condições. Ainda assim, constatei que sair por momentos daquela dinâmica, fazer algo completamente diverso, mudar de tarefa, respirar fundo, mudar de sítio, brincar, ou o que quer que resulte para por momentos esquecer o assunto em mãos, pode ser a chave mais eficaz para a solução surgir e fluir... As agências de criativos têm muitas vezes espaços destinados a atividades lúdicas que facilitam esse processo. O designer cá de casa, não sofre de grandes bloqueios, mas se surgem é na praia que os ultrapassa, privilégios de viver perto do mar!

Do fluxo à felicidade

Quando temos a capacidade de parar e nos retirarmos do problema, parece que tudo surge como que por providência divina e nos tornámos meros canais de ideias, insights e flow. Mas esta é mais uma disciplina a frequentar e sem prazo para concluir.

A verdade é que do fluxo nasce a felicidade.

Ser seletivo

Ensinou-me ainda o designer a fazer escolhas seletivas, optar pelo bom e duradouro e pelo que dá prazer, em detrimento do barato, do inestético ou que não é funcional, e ainda a optar pelo que proporciona uma experiência e não tanto pelo que simplesmente satisfaz uma necessidade imediata. Ao escrever estas linhas no seu mac, entendo bem o que sempre me transmitiu.

A complementaridade do design

É certo que estas aprendizagens não foram feitas só através do design, em paralelo muitas outras metodologias foram passando e deixando a sua marca, e têm até pontos de contacto, como o coaching, visão sistémica e facilitação, mas é extraordinário percecionar que há tanto no design, para além do óbvio e aparente, que é um método integral e permite resultados surpreendentes.

 

Design thinking é para todos

Ser designer não será para todos, mas o #designthinking pode (e deve) ser apreendido e usado por qualquer pessoa, pois congrega ferramentas e atitudes que a todos podem ser úteis e cada um pode integrar no contexto que lhe seja mais útil, além de, em geral, ser bastante divertido!

Falei do designer e dos seus talentos, mas ainda nem o apresentei, mas aposto que com tanto para ensinar ficaram entusiasmados em conhecer o Acácio Viegas!

Vânia Magalhães
www.addmeaning.pt